Crime hediondo


Publicado em 21 de agosto de 2015

O pior dos crimes, o mais ofensivo, chocante, imperdoável. Quando a polícia abordou a senhora de quarenta e oito anos ela tentou se safar. Sua primeira reação foi tentar se livrar da arma e correr para dentro de casa aos berros: sou inocente, sou inocente. A polícia com mandado de busca e apreensão tomou todos os cuidados necessários. Era um flagrante, sem dúvidas. Foi chamado reforço e mais cinco viaturas chegaram para que o trabalho fosse feito com a maior cautela possível. O sargento combinou com os policiais a ação e cada um tomou sua posição para iniciar a invasão do domicílio. Ao adentrar na casa os militares puderam comprovar passo a passo o crime cometido pela senhora. Ela deixara rastros do feito. Botas meia cana, rodo para puxar a água, material de limpeza, entre outros utensílios estavam espalhados na garagem de entrada. A mulher se trancara no quarto e gritava desesperadamente: Não fui eu, não fui eu.

Um policial experiente em negociar com criminosos iniciou o diálogo com a culpada pela janela do quarto: Dona Carmem, a casa está cercada. Por favor, pedimos que você se entregue imediatamente. Nós vamos garantir a sua integridade. O seu advogado já se encontra no local. Os seus direitos serão totalmente respeitados. Só estamos fazendo o nosso trabalho, cumprindo o nosso dever. A mulher aos soluços, percebendo que não tinha saída, abriu a porta e ali mesmo ouviu a voz de prisão proferida pelo Sargento.
Depois de dois meses Carmem foi julgada e condenada a trinta e cinco anos de prisão. Segue a leitura do juiz para a sentença: “A senhora ‘Carmem Gentil’ foi condenada a pena máxima, conforme a lei, efetuada por unanimidade pelos jurados. Seu crime, de alto grau de periculosidade consistiu em manter a mangueira de sua casa derramando água por duas horas e dezessete minutos ininterruptamente causando um desfalque inestimável desse precioso liquido aos mananciais do município. Essa prática, segundo investigações, era uma constante na residência dessa senhora. Ela costumava lavar quintais, os três carros e calçada pelo menos umas cinco vezes por semana. Ela é condenada por promover a morte de milhares de pessoas e gerações futuras, assassinar lagoas e rios com suas respectivas biodiversidades (por falta d’água). Sua crueldade é tão grande que não pensa nem mesmo nos netos. É uma mulher sem coração e sentimentos para com o próximo. A arma do crime, uma mangueira amarela de grosso calibre, encontra-se arquivada em anexo aos autos”.

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