O mundo aos oito anos


Publicado em 11 de julho de 2015

A imprensa dizia que o adversário era o maior clube da Europa. “Base da seleção espanhola” e “time de craques” eram os adjetivos mais usados. Para piorar, logo aos 12 minutos, Stoichkov acertou uma bomba de fora da área no ângulo de Zetti. O Barcelona abria o placar e tudo ficava ainda mais difícil: 1 a 0.

Johan Cruyff, o técnico do outro lado, ria por dentro. Tinha nas mãos um timaço, com craques como Guardiola, Zubizarreta e tantos outros. Após o gol, enquanto a equipe da Catalunha se abraçava, a dupla de zaga brasileira, Adílson e Ronaldão, revia o posicionamento. A jornada não seria fácil.

Mas no banco brasileiro havia Telê. E ele também tinha um timaço, embora menos badalado. Os melhores no jogo eram Cafú, Palhinha e Cerezo, até Raí começar a fazer história, ao empatar, aos 27, escorando o cruzamento de Müller. Sim, o time catalão tinha a aplicação tática, mas não tinha o toque refinado dos brasileiros. Levava sustos na mesma proporção em que os aplicava. Os goleiros se seguravam sob as traves.

E foi então que, aos 33 do segundo tempo, Palhinha sofreu falta na entrada da área. Em seguida, a TV mostrou Raí concentrado para a cobrança. No Brasil, o pensamento era um só: “Daí, para ele, é meio gol”. E não deu outra. O juiz apitou, Raí rolou para Cafú, que devolveu para o chute: a bola fez uma curva incrível por cima da barreira e entrou no ângulo! Até hoje, um dos gols de falta mais bonitos que já vi. O camisa 10 correu em direção a Telê: não à toa, são dois dos maiores ídolos da história do São Paulo.

Gritos de gol na sala, festa no bairro, rojões pela cidade. Era 13 de dezembro de 92, eu só tinha oito anos, e o meu clube do coração já me dava a alegria de vê-lo conquistar o mundo pela primeira vez.

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