O mundo tá muito doente


Publicado em 15 de maio de 2015

Hoje não vou falar de homicídio. Hoje não quero falar daquele carro furtado em plena luz do dia. Hoje não quero dizer sobre o roubo ao pai de família que saia do banco com o salário do mês. Não quero falar sobre o estupro da menina de dez anos. Não vou falar sobre tráfico de drogas. Hoje não quero falar do assalto ao banco que por muito pouco não causou a maior tragédia de todos os tempos na minha cidade. Não quero saber de quadrilhas especializadas altamente armadas. Não vou dar um pio sobre roubo de carga em rodovias da nossa região. Vou ficar em silêncio se a conversa for sobre o assassinato de mais um homem conhecido. Vou dizer que não sei se alguém me perguntar sobre vândalos depredando comércios e ateando fogo em caminhão em pleno centro do município.Hoje não tenho tempo para conversar sobre a moça que apanha do namorado. Não quero falar de pedofilia. Não quero pensar em quantos casos já li sobre delinquência. Hoje quero distânciados vídeos cretinos veiculados em celulares mostrando gente matando gente. Hoje não quero ler as estatísticas de violência da minha cidade. Não vou assistir nenhum jornal regional na tv que me jogue na cara mais mazelas. Hoje nem me venha falar sobre o último rapto de empresário. Não quero ouvir sobre sequestro da mãe de jogador. Não quero olhar a notícia sobre a invasão de bandidos naquela casa do condomínio fechado. Nem nada que seja doloso ou culposo. Hoje não estou com saco para falar de latrocínio. Não quero falar de bala perdida. Não me venham dizer sobre os reféns do presídio. Não vou falar sobre o trote do falso sequestro por telefone. Hoje não vou falar sobre crimes. Não me venha falar de delito. Não venha relembrar esses casos escabrosos de Nardonis, Suzane vonRichthofen entre outros. Não me venha falar sobre violação da ordem. Hoje não quero falar de atropelamento. Não vou lembrar dos acidentes horríveis que já levaram tanta gente embora. Por favor, não me dirija à palavra se o assunto for tragédia. Não quero saber se tem vítima ou refém. Não quero saber o número de facadas muito menos a quantidade de perfurações à bala. Não quero saber se foi à paulada, esmagada, apedrejada. Não me diga uma palavra sobre esquartejamento. Não quero ouvir sobre a briga entre facções. Não quero falar sobre a decapitação de jornalistas pelo estado islâmico nem de sniper americano. Hoje não quero falar de sangue correndo a céu aberto.O mundo tá muito doente.

Com a sua licença, posso?

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