Pratos defeituosos

A família iria receber visitas para o almoço naquele domingo e dona Marinete preparava uma macarronada deliciosa. Seu marido Joaquim estava encarregado de pôr a mesa.

Vou colocar os pratos na mesa, mas esses aqui eu não vou pôr! Olha que coisa horrível, que pratosfeios, manchados, estão todos defeituosos, vou deixar eles de lado e colocar outros _ dizendo isso, selecionou alguns pratos e os “defeituosos” guardou escondidinhos no armário. Dona Marinete só olhou em silêncio. A observação do marido pareceu culpá-la pela falta de pratos novos. Ela se perguntou então onde estava o dinheiro para comprar novos! Enquanto Joaquim colocava os pratos na mesa ela foi até o armário e olhou para os excluídos que lá dentro ficaram. “Será que eu sou um prato defeituoso também?”, pensou. E muitas vezes somos mesmo. Somos pratos defeituosos e manchados, imperfeitos, que são deixados de lado por não se adequar ao ambiente do momento.

Quantas vezes não servimos para estar à mesa, pois não agradamos a todos, temos rachaduras, manchas, estamos lascados e velhos. E pior ainda, quantas vezes fazemos os outros de pratos velhos, excluindo-os de nossa convivência por terem defeitos, manchas, marcas do tempo, esquecendo que somos todos iguais, todos defeituosos. Dona Marinete num gesto insano pegou cada um dos pratos defeituosos e abraçou-os. Eles estavam há muito tempo com ela e faziam parte de sua história de vida. _ Vou também colocar os copos _ disse Joaquim que nem reparou na esposa abraçada aos pratos. _ Ah, veja se eles também não estão com defeito! _ respondeu indignada. No final das contas, o almoço previsto para quatro pessoas, acabou com o dobro de pessoas que foram chegando sem avisar. E foi com muita satisfação que dona Marinete correu no armário pegar os pratos defeituosos e encarando Joaquim com um sorriso radiante e vitorioso, colocou-os orgulhosamente na mesa.