Processo de homogeneização


Publicado em 15 de dezembro de 2017

Uma coisa muito legal em ser humano é perceber que todo mundo é igual, ser humano. Parece confuso, mas, por exemplo, quando tem pessoas reunidas batendo papo, os assuntos são comuns, tipo família, trabalho, comida…
Naquele dia não foi diferente. O grupinho reunido falava de si, dos familiares e das diversas configurações nos lares de hoje enquanto beliscava uns tira-gostos. No meio da conversa, uma voz se destacou:

-Então, ai chegou num ponto em que eu não sabia mais quem era o sofá e quem era a pessoa! Não sabia onde começava um e terminava o outro!-concluiu ela para a colega que ouvia, mas que chamou a atenção de todo o grupo.

A voz era da mulher bonita e bem articulada que falava sobre uma pessoa, que
eu não vou dizer quem é, mas não era o marido não, como vocês podem estar pensando… Era outra pessoa…

Na verdade, o fato é que a outrora pessoa ativa, decidiu abdicar da vida e elegeu o sofá como melhor companheiro. E fazia tanto tempo que ambos, pessoa e sofá, se misturavam, quase que se homogeneizavam, ou seja, igualavam-se, tornavam-se uma coisa só.

Todo mundo achou a colocação muito divertida e na verdade eu fiquei refletindo sobre aquilo. Esse processo de homogeneização é interessante. Vai misturando aos poucos até ficar um. Acho que todo mundo, senão quase todo mundo, alguma vez já quis se misturar com alguma coisa. Eu já quis me homogeneizar com minha cama.

Lembro-me de dias muito chuvosos em que não dava pra saber quem era eu e quem era a cama. Mas também já aconteceu em dias de sol. Já quis me homogeneizar com a cama e ficar camuflada lá. Mas foram períodos esparsos, nada constantes, mas enfim…

Depois do bate papo naquele grupo, participei de outro grupo de amigos e conhecidos em outro lugar. A dona da casa estava fazendo uma sobremesa de gelatina e ao diluir o pó, olhou pra mim e disse:

-Ás vezes eu queria me dissolver igualzinho esse pó de gelatina. Diluir-me!

“Não”, pensei eu, “tem gente querendo se homogeneizar e gente querendo se
diluir”. Pensei nas ocasiões em que eu também quis me dissolver, e acontece. Acontece com todo ser humano, somos iguais, queremos homogeneizar, dissolver… Então, veio outra pessoa com uma tábua de carne e uma faca afiada. Daí eu saí de perto. Não quis pensar no picar, fatiar, ou apenas cortar, seja lá o que fosse que ela ia fazer… Sai da sala e fui me homogeneizar com o sofá da minha amiga antes de chegar em casa e me dissolver na minha cama.

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