Robôs


Publicado em 9 de setembro de 2016

A menina esperava ansiosamente pela chegada do pai. Logo ele chegou e colocou a bandeja na mesa. Lanche, batata frita e refrigerante. O que mais uma criança pode querer? O lanche feliz da rede de fast food ainda incluia um brinquedinho.

A menina começou então a comer as batatinhas. O pai sentou-se do outro lado. Só estavam os dois naquela mesa. Talvez a mãe tivesse ficado em casa, se recusado a passear no shopping, ou talvez os pais fossem separados e o pai tenha levado a filha para comer lanche, passear, bater um papo, sei lá.

A menina comia e fitava o pai. Agora era a hora do diálogo. Só que não…

O pai sem pestanejar tirou do bolso o celular e começou a correr os dedos avidamente. A menina olhava para ele e comia as batatas fritas. O pai fitava o celular. A menina terminou as batatas e pegou o lanche. O pai nem moveu a cabeça. Naquele momento ele estava inerte, dominado pela máquina, indiferente à companhia, indiferente à vida.

A menina pegou o brinquedinho surpresa. O que mais uma criança pode querer? Lanche feliz, brinquedo… E olhava para o pai, o pai não tirava os olhos do celular, cego.

O que mais uma criança pode querer? Uma conversa, um afago, uma ajuda pra desembrulhar o lanche ou esperar o pai colocar o canudo naquele buraquinho da tampa do copo cheio de refrigerante? Um sorriso?

A pequena mexia no brinquedinho, olhava para o pai, comia no silêncio. Foi o último gole de refrigerante, acabou a refeição, acabou o momento familia, o passeio com o pai, a chance de ouvir histórias, de contar sobre seu dia na escola. Com os olhos fixos nele, ela esperou. Por mais dez minutos ela ficou alí, ela agora inerte, com seus sentimentos guardados, mecânica, uma maquininha sem falar. O pai então percebeu o fim do lanche e guardou o celular no bolso. Ambos então se levantaram e como robôs foram embora. Um, robô por opção, a outra, robô por imposição.

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