A tentação


Publicado em 7 de março de 2014

Como toda recém-casada, aquela jovem também sonhava em fazer o melhor para seu marido, e o melhor para maridos desde antigamente é a esposa lavar, passar, cozinhar; então ela começou bem: escolheu um trabalho de meio período e dessa forma, lavava, passava e cozinhava com esmero. Já cedinho ela se levantava e fazia um cafezinho delicioso, no almoço a comidinha estava lá, fresquinha, cheirosa, e no jantar, ela cozinhava novamente, não importava se três ou quatro vezes ao dia ela tivesse que lavar louças, o importante era agradar o maridão, e fazê-lo feliz à moda antiga era sua própria felicidade. Porém, como tudo tem um fim, nessa situação não foi diferente. Infelizmente, após apenas três anos de casada, a jovem esposa, muito bonita, caiu em tentação. Não resistiu, não tirou os olhos daquilo que não devia ser visto. Dia após dia, ela levantava e se deitava só pensando naquelas belezas que ela via em todo lugar diante de seus olhos…

Tudo começou com uma simples sanduicheira que ela viu na loja. Amou e pensou “não vai ter problema fazer um sanduíche nessa maquininha”; depois foi a máquina de fazer café, linda e reluzente que piscava para ela toda vez que passava em frente à loja de eletrodomésticos. “Um cafezinho expresso vai fazer bem pra gente, mais cafeína, mais energia…”.

E o marido foi vendo seu cafezinho passado na hora, à moda antiga, ser substituído aos poucos por um café forte e impessoal e o pão caseiro que ela aprendeu a fazer com a vovó, foi substituído pelo pão da máquina de fazer pão, que ela não resistiu e comprou também no mesmo dia em que comprou a máquina de fazer café.

Cinco anos de casada e a tentação chegou ao almoço: veio a panela de fazer arroz, a panela de pressão elétrica e pra ficar melhor, a máquina de lavar louças. Nesse ponto, o marido sentou-se com a mulher para discutir a relação e discutir os gastos do cartão de crédito, conversar a respeito, perdoar a mulher e pedir que ela não caísse mais em tentação…

Semana passada comemoraram dez anos de casados. O presente veio na fatura do cartão de crédito e na enorme caixa deixada pelo correio: uma fritadeira ultramoderna que não usa óleo, brilhante e cheirando a equipamento novo. O marido, que recebeu a encomenda, viu naquele momento o fim de seu almoço caseiro, a mulher pegou a caixa e com todo carinho abriu-a na frente do marido e olhou para ele com um olhar de “desculpe, não resisti e cai em tentação de novo”.

Vencido, o maridão deu de ombros e desistiu. Foi para o quarto, vestiu seus shorts de academia e os famosos tênis “de marca”, pegou o controle da TV a cabo (que ele amava e pagava caro por ela) e subiu na sua esteira elétrica de não sei quantos cavalos de potência e começou seus exercícios diários, afinal, ele também já há muito tempo, ainda recém-casado, havia comprado seus próprios equipamentos, caído em suas próprias tentações…

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