A tal síndrome de Genovese
Publicado em 26 de julho de 2019
Me lembro perfeitamente da cena. Devia ter uns 5 anos. A vizinha e os dois filhos pequenos entraram correndo na minha casa e se esconderam no quarto dos meus pais. A mulher tinha acabado de ser espancada pelo marido e fugiu na tentativa de se esconder. Foi em vão.
Eu lembro de não entender nada e, com uma cinta da minha mãe nas minhas mãos, gritar para o vizinho sair de casa senão eu ia “bater nele”. Uma criança tentando defender um adulto sem ter a real noção do que estava acontecendo ali.
Ela voltou para casa dele com os filhos pequenos e o espancamento aconteceu outras vezes até que eu, adolescente, já entendia o que estava acontecendo e sempre era impedida pelo meu pai de ligar para polícia. “Em briga de marido e mulher não se mete a colher, Graziela. Aprenda isso”. Eu obedeci por um tempo, mas aquilo me doía a alma.
Essa cultura machista de não ajudar a vítima tem um nome que eu descobri há pouco tempo: síndrome ou efeito Genovese, inspirado num caso real ocorrido em Nova York nos anos 60.
O nome vem do assassinato de Kitty Genovese, uma garota de 28 anos, em 13 de março de 1964, em Nova York. Durante meia hora, ela foi estuprada e esfaqueada. O criminoso teria voltado à cena, dez minutos depois, para terminar de matá-la. E o mais impressionante: 38 pessoas teriam testemunhado o ataque e não fizeram nada.
Existem algumas teorias psicológicas que embasam esse tipo de atitude, mas não vem ao caso levantarmos as hipóteses neste texto. Aqui, minha intenção é exclusivamente chamar sua atenção para esse fato que, infelizmente, ainda acontece.
Precisamos, para ontem, desconstruir esse estilo que herdamos dos nossos pais e avós. Quando presenciar uma mulher sendo vítima de agressão, por favor, denuncie imediatamente. Ligue para o 180 e faça sua parte.
Bom… sobre a minha vizinha, ela criou coragem e, anos depois, se separou do marido. E ele? Casou novamente e continuou espancando a nova mulher. Porque algumas coisas, infelizmente, não mudam nunca.