Até um dia…

Nas centenas de vezes que me sentei em frente ao computador para escrever uma história, as palavras fluíam e eu tinha que me controlar para não me estender demais e cansar meus leitores. Hoje, porém, minhas palavras foram sufocadas por lágrimas em uma história difícil de contar.

Essa semana meu pai descansou aos 87 anos de vida. Foi um dia triste. O céu chorou comigo e refletiu o frio da minha alma, meu coração se partiu, sangra e eu enterrei com meu pai parte da minha vida que nunca mais será a mesma. Nessa tristeza sem fim, em meio ao vazio que estou sentindo, eu não poderia deixar de compartilhar com vocês um pouco sobre esse grande homem que foi meu pai.

Alcides Fazanaro, para quem não sabe, foi alfaiate quando jovem. Ele dizia que fazia duas calças por dia e que naquele tempo, as calças de alfaiataria tinham muito valor.

Ele também tocava acordeom e piano. Foram muitas vezes que eu, criança, me sentei ao seu lado para ouvi-lo tocar, mas não pensem que ele estudou música, não, meu pai tocava de ouvido, ou seja, ouvia uma música e logo já estava tocando. Ele me ensinou a amar a música e sempre tocava piano em minha casa. Parece estranho dizer que uma pessoa com problema auditivo pudesse tocar um instrumento sem nunca ter estudado, mas a falta de audição nunca foi empecilho para meu pai.

Meu pai era também muito inteligente. Por décadas, ele gerenciou uma empresa com sabedoria e visão de futuro. Dedicou grande parte de sua vida a esse trabalho e tinha o único pensamento de progredir. E como fico orgulhosa em dizer que meu pai, Alcides Fazanaro, foi um homem honesto, íntegro e de grande caráter. Há alguns meses, ele leu uma noticia num jornal local que o entristeceu profundamente e nos disse que em todos aqueles anos que gerenciou certa empresa, ele nunca deixou de pagar um funcionário.

Como, com a graça de Deus, existe recompensa para aquele que sempre fez o bem, há 27 anos, após sofrer uma grande injustiça, meu pai foi presenteado com uma nova vida, aquela que só o único Deus vivo e verdadeiro pode dar. Uma vida de paz e tranquilidade. Deixou para trás uma vida de luta e trabalho incansável, para estar conosco diariamente, zelar por nós e aproveitar um pouco do conforto que ele lutou e conseguiu por merecer. Viveu seus últimos anos em paz, cercado pela família que tanto amou, viu seus filhos crescerem com suas próprias pernas e mal conseguia esconder seu orgulho com nosso progresso, viveu ao lado da esposa a quem tanto amava, perdoou a todos que o fizeram sofrer e viu a justiça de Deus em sua vida que o recompensou com longevidade, sabedoria e a riqueza da Palavra de Deus. Viveu na presença do Senhor.

Confesso que eu gostaria que ele ficasse mais um pouquinho, mas sei que um dia vamos nos encontrar. É promessa do Senhor! Enquanto esse dia não chega…tchau pai…até um dia!

Nossos agradecimentos a todos que nos confortaram nesse momento de dor, a todos que nos abraçaram e estiveram no velório e no enterro do meu paizinho amado. Encheu nosso coração de alegria ver tanta gente, ouvir tantas coisas boas sobre meu pai, ver seus antigos funcionários fazendo questão de nos dar um abraço. A cada um de vocês, amigos, pessoas queridas, nossos agradecimentos.