Cada um com seus “Pobrema”
Publicado em 20 de fevereiro de 2015
O olho do cachorro que adoeceu e segundo a veterinária, sendo doença genética, o pobre bichano está condenado a usar colírio pelo resto da vida. O liquidificador que quebrou uma peça encontrada apenas em assistência autorizada e que o técnico disse não ter data para chegar. A água que deveria estar na torneira o dia todo e por motivos óbvios, no horário de racionamento, não da o ar da graça. A meia do pé direito furada quando pego de surpresa o médico pediu para tirar os sapatos. A blitz policial num local improvável quando você passeava com sua moto sem a documentação em dia. A moça da padaria que pediu para você aguardar porque acabou o pão justo na hora que você ia pedir dez “filãozinho”. O remédio para garganta, um simples remédio, que no caixa da farmácia virou um baita remédio depois de anunciarem o preço do xarope. O pneu furado na hora de sair para o casamento, o qual você era madrinha da sua melhor amiga. Os bêbados da praça que quando você passou por eles assoviaram e um deles disse: oh meu amorzinho, chega ai! O homem estranho que já passou quatro vezes de carro em baixa velocidade, te encarando, na frente da sua casa quando você varria a calçada. O chefe arrogante que veio contando sorridente sobre sua próxima viagem e que ainda lhe deve o décimo terceiro salário. A sua barriga que cresceu dez centímetros depois dos exageros do carnaval. A sua barriga que não para de crescer devido a um deslize durante o carnaval, vem ai mais um folião ou foliã. O cartão de crédito que mais parece uma bola de neve e a dívida cresce a cada dia. O senhor que todo dia lhe pede esmola: “o moço, o moço”. A igreja ao lado que não lhe deixa ver a novela sossegada. A corneta anunciando mais um coitado que se foi. O vereador que toda vez que você o encontra promete resolver os problemas do bairro. A injeção que você tem que tomar e disseram que é doída. O seu time do coração que leva uma lambada atrás da outra. As contas pra pagar. O cálculo renal. A prova na faculdade. O Facebook com comentários idiotas sobre política de gente sem instrução. O preconceito do sujeito ao lado. O tio alcoólatra que vive armando brigas e desavenças na família. A constituição que tudo assegura e que na prática é muito diferente. Os gatos soltos pela cidade que namoram de madrugada emitindo aquele som de criança chorando. O Som do vizinho numa altura que o bairro inteiro pode ouvir: “vou embora, bora – homem não chora!”. A promessa que você fez na quaresma e já está vendo que não vai conseguir cumprir. O seu filho que resolveu parar de estudar e que também não está pensando em trabalhar. O telefone que ficou mudo do nada e você vai ter que ligar na “Vivo” para pedir reparo. O seu dente careado ou a ponte que quebrou. O seu amor não correspondido. O seu amor correspondido. A sua amante pedindo para você terminar o namoro com a oficial. O governo federal, estadual, municipal ou sideral. A igreja Universal. A queimada no canavial ou furto no seu quintal. A internet que caiu (Apocalipse). Como diz meu amigo Paulo Benedito Florentino de Oliveira, vulgo Paulão: “Cada um com seus pobrema”.