Cavalete de propaganda política de estimação
Publicado em 26 de setembro de 2014
Ai meu Deus, lá vêm eles de novo! Lá vêm eles de novo! Leitores (as) a propaganda política no Brasil é de dar dor de dente aguda, daquelas que só com tratamento de canal resolve. Cheguei a esta conclusão especialmente após dialogar com uma dessas placas (cavaletes) que são distribuídas pelas vias do município com um candidato sorrindo como se nos conhecesse há tempos. Na semana passada fui caminhar na Avenida Pedro Cosenza um pouco mais tarde que de costume. Já passavam das vinte e três horas e devido à ventania forte nenhum transeunte se avistava. Estava eu e Deus. Fui surpreendido logo na descida para a Lagoa dos Patos onde ouvi uma voz me chamando. Chamava-me de jovem. Fiquei até feliz porque faltam poucos meses para eu completar quarenta e quatro primaveras. Olhei para trás, ao redor, e nada, nenhum ser vivo a não ser um cachorro magricela me observando e no mínimo pensando: este já era, endoidou. Dei mais alguns passos, coisa para avançar uns dez metros e de novo a voz me chama: – Jovem, sou eu, a placa. Assustado o que me restou foi responder: – Como assim, desde quando placa fala? Ela sem se mover desandou a falar: – Olha, você pode até não acreditar, mas é real. Não aguento mais ser usada para propaganda política. Está vendo esse bonitão ai, colado sobre mim? Pois é, nunca esteve aqui para ver os problemas da cidade e agora me usa para fazer sua propaganda política. O problema é que por causa disso muitas pessoas revoltadas com o descaramento desse fulano (a) vêm me insultar, me desmoralizar, e algumas até de violência usam. Cansei de ser chutada, cuspida, mal tratada. Outro dia parou um homem aqui e disse que ia me sequestrar e atear fogo em mim. Que culpa tenho eu? Outro veio e fez xixi bem na minha cara. Passei a noite fedendo e molhada. Vários me atropelam e vão embora aos berros me ofendendo com palavras de baixo calão sem me socorrer. Vivo quebrada. Olhei para os lados e o cachorro ainda ali plantado, me olhando como dizendo: – É caso grave!
A questão é que fiquei de tal maneira sensibilizado com a placa que resolvi leva-la para casa. Pelo menos salvei uma. Obvio que retirei a tal propaganda e colei um pôster de uma linda paisagem no lugar. Quem a vê hoje elogia dizendo que a placa é linda.
Milhões são gastos no país com propaganda política das mais diversas formas: placas, televisão, panfletos, rádio, etc. Eu e a Santina (minha placa de estimação) sugerimos que se crie um site do STE (Tribunal Superior Eleitoral) e lá se poste a fotografia e a proposta de cada candidato, e ponto. Sem montagem de foto, sem musiquinhas, sem criar poluição visual nas cidades, sem teatro, apenas e somente o projeto de cada um.