Diferente


Publicado em 20 de novembro de 2015

Conheço bem o cheiro da cana-de-açúcar, pois cresci com ele impregnado nas roupas. A casa onde cresci por pouco não faz divisa com a Usina Iracema: um muro, um campo de futebol e uma estrada de terra. Desde criança, tenho decorado na cabeça o som das chaminés, dos apitos de descanso, do maquinário e do lume queimando, feito uma música pop que, de tão repetitiva, tornou-se familiar.

Cresci na terra, andando de bicicleta entre o mato. Ia com meus amigos fazer trilha, andava descalço, visitava a gruta do Pilon, corria solto pelos bairros. Jogava bola na rua até a noite e voltava para casa com a roupa cheia daquele cisco escuro que vem da palha da cana. O cheiro era mais forte antes, nos anos 90, mas nunca incomodava. Era tudo parte da rotina.

O engraçado é que esta é uma cidade artesanal e industrial, ao mesmo tempo. Está bem perto do coração econômico do país, de duas a três horas de São Paulo. Ou seja, vive-se de forma tranquila e, quando é preciso, em pouco tempo, estamos na cidade mais agitada do país.

Além disso, aqui há alegrias que jamais vi em outro lugar, como a de se contentar, de coração, em conseguir ouvir o alto-falante da caixa d’água, a de dar bom-dia a estranhos, a de perguntar “de quem somos gente”, entre tantas e outras coisas. Todo iracemapolense sabe disso.

A verdade é que dá orgulho de ter os pés vermelhos e o cheiro estranho da cana em toda esquina. Quem não é deste lugar e pensa conhecer o aroma canavieiro está redondamente enganado: o daqui é diferente!

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