Falando da Cidade – 11 de dezembro de 2015


Publicado em 11 de dezembro de 2015

Moleque do Bate-Pau 

Quando fizemos nossa mudança pro Jardim Iracema no caminhão de meu tio Salvador, eu estava com sete anos, e dali em diante começava a descobrir as delicias de ser um moleque de Bate-Pau.

A terceira etapa do Jardim Iracema tinha 272 residências, em cada uma delas um sonho realizado, uma esperança de um futuro com dignidade, um cachorro para assustar os ladrões (que na verdade nem existiam), e uma média de duas ou três crianças em cada casa, o que num calculo simples podemos ver que foram agrupados mais de 600 moleques com liberdade para andar soltos pela cidade toda.

Os moleques de Bate-Pau tinham autonomia para desbravar as poucas casas que restavam da Coloninha do Sapo; podíamos também nos aventurar em caçar morcegos balançando uma vara de bambu dentro da gruta do Pilão; a piscina do Centro de Lazer tinha o Ninhão como porteiro, que mesmo com a mensalidade atrasada, ou até mesmo sem carteirinha deixava a molecada nadar, até porque o Ninhão também era da casa própia (era assim mesmo que éramos chamados), mas o gostoso mesmo era se refrescar no Poção Brasilio.

Se refrescar era outra especialidade dos moleques de Bate-Pau. O Tanque Novo era a represa mais acessível; a Lagoa do Jacinto, que hoje se encontra praticamente dentro da cidade era para caçar piramboia; o Filipino era pra nadar por ter a água mais gelada; e a represa Municipal era pra provocar o Piauí, o GM mais famoso da história de Iracemápolis.

Brincávamos nas enxurradas, sem preocupação (nem sabíamos que existia) com a leptospirose; caçávamos passarinhos com estilingue, juquiá e sarpão (era assim que chamávamos o alçapão); jogávamos futebol e taco nas ruas e graminhas; nas ruas também tinha o pique salve, policia e ladrão, pé na lata, namoro no escuro, anamula e garrafão.

Quando queríamos dinheiro não adiantava pedir para os pais pois a negativa era certa, para isso podíamos tentar pegar um carrinho para vender sorvete pro Demir ou pra Dora; ou pedir para nossas mães preparar uns geladinhos e uma caixa de isopor e vender os mesmos na fila de descarregamento de cana da Usina Iracema; outra solução para quem precisava de uns caraminguás era juntar papelão, latas e garrafas vazias para vender para o Limongi.

Quando chegava aos 14 anos, uma das missões dos moleques de Bate-Pau era conseguir driblar o Giroto na entrada do cinema para assistir filmes proibidos para menores de 16 ou até mesmo 18 anos, muitos destes filmes passariam hoje em dia na Sessão da Tarde sem problema algum; ou então prometer que não entraria em confusão, nem beberia nenhum tipo de bebida alcoólica ate conseguir convencer algum primo ou tio para que assinasse uma autorizaçao se responsabilizando por você na entrada dos bailes e discotecas do CRECI.

Os tempos mudaram, o que era muito bom na nossa infância não faz o menor sentido para os jovens e moleques de hoje; nem mesmo a reunião para jogar os famosos jogos de tabuleiro, ou os campeonatos de futebol de botão e Atari são inviáveis, pois os mesmos se “reúnem” cada um em sua casa para jogarem “juntos” pela internet.

Pode ser arrogância de minha parte dizer que não trocaria minha infância como moleque de Bate-Pau pela infância cibernética e conectada da atualidade; mas posso afirmar que se ao ler este texto relembrou de alguma passagem de sua infância, parabéns você foi um moleque(a) do Bate-Pau.

Peço licença aos leitores do Falando da Cidade para algumas semanas sem a coluna como costumeiramente é editada, mas os compromissos dezembrinos tomam um tempo precioso que necessito para elaborar as palavras antes de serem publicadas; até lá vamos colocando histórias e causos de nossa cidade.

Futebol, Alegria do Povo!

Só para não passar em branco, neste domingo pela manhã teremos a final da Copa Gazeta de futebol, no estádio do Pradão, onde o Seringueira Kael do Zé Nikkei enfrentará o time do Abílio Pedro. Como já foi dito no texto acima, os tempos mudam, a rivalidade CAUI e América se extinguiu, e o time de Iracemápolis que mais tem disputados títulos no futebol é o Seringueira. Seria interessante uma maior participação e apoio para esta equipe, pois o Zé Nikkei é um dos últimos moicanos e abnegados preocupados com o futebol amador em nossa cidade.

Túnel do Tempo

Ronaldo-Denardi

Para representar os Moleque de Bate-Pau, nada melhor do que o Ronaldo Denardi andando de skate em frente ao posto Botizani, onde o único equipamento de segurança que ele usava era uns 12 anjos da guarda.

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