Lições do tempo


Publicado em 15 de maio de 2015

Uma vez, assistindo a série “Anos Incríveis”, na TV Cultura, aprendi uma coisa com o Kevin Arnold: ”Cada espírito humano tem a sua própria forma de lidar com a perda e a dor: uns maldizem a escuridão, outros brincam de esconde-esconde”.

Conto isso para indicar aqui um livro: “Ghost Rider: A Estrada da Cura”, do músico e escritor Neil Peart. O texto é uma bonita história de superação e ensina que perder é sempre difícil, mas também é um ótimo motivo para refletir.

O autor viu sua única filha, Selena, de 19 anos, morrer num acidente de carro. Meses depois foi a vez de sua esposa, Jackie, falecer após um câncer. Perder duas pessoas que amava, em intervalo tão curto, foi bem difícil. Peart pensou em desistir de tudo! No funeral, disse a amigos que estava aposentado e sem forças para seguir.

Isolado, para não enlouquecer, pegou sua moto e saiu sem rumo pelos EUA, onde vive. Viajou 90 mil km por 14 meses, passando por lugares remotos e hotéis ruins, sempre levando pouca coisa. Enquanto vagava, ocupou-se em ler e refletir sobre a vida. A solidão, as paisagens, o contato com a natureza e as pessoas que conheceu o ajudaram a superar a dor e a seguir em frente. Anotou tudo o que viveu — e essas anotações são justamente o seu livro.

De minha parte, quero compartilhar uma reflexão que fiz a partir do que li. Penso que há coisas que a gente nunca espera que um dia vá terminar. E quando isso acontece, fica um rito de passagem muito marcante. A saudade ensina que vivemos num mundo cheio de finitudes, que o relógio gira muito rápido e que infelizmente não nos damos conta. Mas, se tivermos boa cabeça, a lembrança de tudo já é suficiente. Porque na nossa memória, de certo modo, nada termina! No fundo, tudo é questão de como você encara a vida. O eterno é só uma ideia — e a gente decide se quer ou não ficar com ela.

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