Modernidade

Em tardes de inverno, nada mais aconchegante do que tomar café na vovó. A pequena Sarita de seis anos de idade amava o cheirinho do café, o leite com chocolate e os pães torrados com manteiga que saíam quentinhos do forno. Parecia cena de filme de antigamente ver neta e avó sentadas à mesa, não fosse por um fato curioso.

A vó, que já estava às portas dos setenta anos de idade, tentava se familiarizar com o novo aparelho de celular que presenteara a si mesma em seu aniversário. “Eu mereço um aparelho novo, afinal criei todos vocês muito bem, e nada faltou” – dizia para os filhos ao justificar a necessidade de um novo, mais sofisticado e mais caro aparelho, aquele que tem o símbolo da maçã.

— Seu pai se esqueceu de instalar aquele aplicativo que eu tanto uso, no meu celular novo_ disse a avó para a neta.

— Eu seu qual é – bradou a netinha – eu tenho no meu celular. Liga aí o “bluetooth” que eu passo para você, vovó.

— Ah…beleza! É para já!
E entre xícaras de café, leite com chocolate e pão torrado com manteiga, as duas se divertiram a tarde toda…no celular…

E então a gente para e pensa… Acredito que nem o mais futurista dos visionários poderia sequer imaginar que um dia haveria esse tipo de diálogo entre uma senhora de 70 anos, avó, e sua neta de 6 anos de idade. Quando que nossos avós pensariam que pudesse existir algo mais gostoso para passar a tarde do que fazer pão no forno de lenha e sentar para contar histórias para a criançada que se apertava no chão da sala, e nós, crianças de quarenta, cinquenta anos atrás pensaríamos que seria mais divertido passar a tarde com uma maquininha na mão, do que brincar na rua e ouvir as histórias de nossos amados avós? Certeza que domingo passado, milhares de beijos foram recebidos pelo Dia dos Avós: beijos virtuais, pelo zap, como dizem, ou por outras redes sociais, que avós e netos aprenderam a manejar tão bem… Abraço e beijo de verdade, em tempos modernos, infelizmente estão ficando obsoletos!