Moleque do Bate Pau


Publicado em 1 de maio de 2024

Sei que não sou das pessoas mais indicadas para falar em fé, ou em qualquer tipo de espiritualidade. Afinal vou tão pouco às missas que quando participo de uma celebração vejo alguns olhares de que parece que tem um estranho na cerimônia. Nem tampouco frequento cultos ou momentos de orações em outras religiões, apesar de gostar e admirar o trabalho dos amigos Pastor Sergio da Casa de Adoração, e do Pastor Biro da Ágape; enfim a espiritualidade é um ponto de minha vida que ainda tenho muito a aprender.

Mas o que tem a ver tudo isto com as molequices de um batepaulense? Simples; apesar desta característica (ou falha para alguns) sou muito grato a Deus por pertencer à uma geração que viveu a maior mudança de comportamento de toda a história da humanidade.

Em minha infância fui um Moleque de Bate Pau daqueles que aqueles que nasceram no novo milênio jamais ousam imaginar.

Assim como a grande maioria dos MBPs, nem mesmo no primeiro dia de aula tínhamos a companhia dos pais, nem sequer no portão. Pois nossas mães estavam em um talhão de um canavial que havia sido queimado no dia anterior; e elas voltavam para casa que ao descerem do caminhão só sabíamos quem era nossa mãe pelo jeito de andar, ou pela moringa de barro, e pela cesta de bambu com um guardanapo envolvendo a marmita que as faziam ser jus ao codinome “bóia Fria”.

Aprendemos a nadar nas represas da Boa Vista, do Filipino e principalmente do Tanque Novo que era a mais movimentada por ser a mais próxima da cidade (inclusive foi no Tanque Novo que dei minhas primeiras braçadas) sem qualquer supervisão de um adulto; e flutuadores de braço nem sequer sabíamos que existia, com muita sorte conseguíamos uma câmara de ar de algum carro para podermos “descansar” onde não dava pé.

Nossa Escolinha de Futebol eram qualquer terreno que pudesse ser ao menos “pisável”. Pedras e espinhos não eram problemas para nossos cascos duros que só viam congas e kichutes para irmos à escola; nossos uniformes eram na sorte, quem perdia tirava a camisa, mas sempre tinha aquele que nunca estava de camisa, portanto já estava escalado para o time dos peitos nus.

Que alegria era chegar a sexta-feira santa, mas não porque iríamos ganhar ovo de páscoa no domingo, até porque o máximo que tínhamos era alguns bombons Sonho de Valsa, ou para quem corria atrás um dos ovos da rifa da Vera Medeiros (mãe da Nádia e do Batata) que dava um ovo para quem vendesse uma cartela; não meus caros, a expectativa não era por causa dos chocolates, mas sim para ver que conseguiria escalar o eucalipto lambuzado de gordura, o famoso Pau de Sebo. Dentre os troféus da minha molequice tenho a alegria de ter consumido uma Coca Cola no bar do Mário Curadô por ter conseguido tirar uma das botinas do Judas no terreno onde hoje funciona a Boxer ferramentas.

Quando chegava circos e parques fazíamos grande festa, pois teríamos atrações e a chance de ganhar algum dinheiro. Trabalhar nas vendas de doces nos circos rendiam um valor tão baixo que geralmente ficávamos devendo por ter consumido qualquer dos produtos, mas a vantagem é que assistíamos ao espetáculo de graça.

Frequentar o Matadô (matadouro municipal para quem não é batepaulense do gomo da cana) era diversão pura. Cavalos em podíamos até mesmo montar; bois e vacas nos desafiávamos a ver quem tinha coragem de entrar na baia deles.

Enfim são tantas as coisas que os Moleques de Bate Pau fizeram por gerações, que daria para escrever não somente este espaço, mas todo o jornal. E a minha geração foi uma das últimas a viver o passado, e poder apreciar o mundo que surgiu com a virada do milênio, afinal era um ditado popular; ano 2000 chegará, mas não passará; como de fato não passou; o mundo pré 2000 não é o mesmo pós 2000.

E por isto eu com toda a minha falha para com o Criador, só tenho a agradecer por ter sido um Moleque do Bate Pau, e nesta mesma Iracemápolis ver todo o crescimento dela; e saber que muito ainda há por vir. Parabéns à Princesa do Sudeste do Brasil pelos seus 70 anos; e que sejamos sempre um lugar de destaque e vanguarda na região.

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