Origens de Iracemápolis e os primeiros povoadores
Publicado em 2 de maio de 2025

Angelo Denadai
A história da formação do povoado que originou Iracemápolis ainda carece de documentos que permitam registros precisos e com o devido rigor historiográfico. O objetivo deste artigo é, ao analisar documentos já conhecidos e apresentar um documento inédito na historiografia documentada, trazer alguma luz sobre os primórdios da povoação das terras onde se formou o município. Tal documento inédito apresenta para a história de Iracemápolis um casal primordial da povoação, possivelmente os primeiros proprietários das terras. E ao se analisar a árvore genealógica desse casal, encontram-se inúmeras famílias tradicionais que hoje representam significativo percentual de sua população.
Conhecer a história dos primeiros povoadores não indígenas, abre portas antes fechadas sobre os tempos remotos da povoação, dando pistas sobre sua fundação, apesar de ainda não trazer os fatos definitivos. A historiografia em geral, quando trata sobre a fundação de um lugar, comumente se baseia em registros documentais sobre um fato primordial, que inicia uma comunidade em determinado local que, por motivos diversos, atrai outras pessoas, as famílias crescem e, ao longo do tempo, essa comunidade primordial pode gerar vilas e pequenas ou grandes cidades.
Com Iracemápolis não foi diferente. A povoação surgiu e cresceu no entorno da capela de Santa Cruz da Boa Vista. Pouco se sabe sobre quando exatamente e como surgiu a capela, ou quem a construiu. Porém pode-se inferir, com base nas características histórico-religiosas da população, que em um grande bairro rural com algumas grandes fazendas, pequenos sítios e chácaras espalhados por um território amplo, com uma população dispersa, distantes da sede do município (Limeira), praticantes do catolicismo e com dificuldades de locomoção para ter acesso aos templos e serviços religiosos, como missas, casamentos, batizados dos filhos etc, era muito conveniente construir uma capela em algum ponto central desse bairro, e assim surgiu a capela de Santa Cruz da Boa Vista. Porém, como dito acima, sobre essa construção e fundação pouco se sabe, e o que se sabe, está baseado na tradição oral. Não é conhecido nenhum documento que comprove a doação do terreno ou que mencione fatos sobre a construção da capela, onde hoje se localiza a Praça da Matriz, o que é tido como fato fundador da povoação. Sobre o suposto fundador, José Emídio, nada se sabe, e o que se tem sobre ele são apenas hipóteses, como uma que será exposta ao final desse texto. Com base em diversas pesquisas, o que se passa a conhecer, à partir de análise documental, incluindo documento inédito que será descrito abaixo, é quem, possivelmente, foram os donos originais das terras onde se desenvolveu Iracemápolis. E essas novas informações permitem supor que José Emídio possa ter sido um dos diversos herdeiros de partes dessas terras, e que pode ter doado toda ou parte de sua herança para a construção da capela. Ainda não são conhecidos, no entanto, documentos que comprovem essa hipótese.
Antes de expor informações sobre o pequeno núcleo que originou Iracemápolis, importa conhecer o processo mais amplo de ocupação regional. E o processo de ocupação e povoação oficial de toda essa região se iniciou com a fundação de Piracicaba, em 1767. O esgotamento do ouro nas áreas de mineração de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso geraram a necessidade do desenvolvimento de alternativas econômicas, que teve amparo na produção agrícola e, com isso, a expansão da ocupação do território até então habitado pelos indígenas. O esteio econômico, nas primeiras décadas da povoação de toda a região de Piracicaba, foi a produção e exportação de açúcar, além da produção de gêneros agrícolas de modo geral, incluindo os de subsistência, e a criação de animais, fossem os destinados à alimentação ou os muares, destinados às tropas que eram o meio de escoamento da produção naquela época. Isso gerou um rápido movimento de busca por terras agricultáveis, com ocupações oficiais, através dos pedidos de concessão de sesmarias, mas também através de apossamentos sem qualquer critério ou controle. Dessa forma, os indígenas remanescentes da região foram, gradativamente, sendo expulsos e empurrados para o interior do território paulista. Esse interesse pela exploração de novas terras férteis, principalmente para o cultivo da cana de açúcar, levou, em poucos anos, à expansão dos limites da vila de Piracicaba, rumo ao sertão ainda inexplorado. Assim, diversas sesmarias foram concedidas na região, algumas sobre as quais muito se sabe, como a Sesmaria do Morro Azul, outorgada por D. João VI em 13 de janeiro de 1817, e outras sobre as quais não há registros publicados. E, além das sesmarias, geralmente concedidas a pessoas influentes e já providas de outras posses, muitos posseiros foram ocupando as terras à revelia, e formando seus pequenos sítios.
Nos registros dos maços de população, uma espécie de censo anual, realizados na freguesia de Piracicaba, em 1822, mesmo ano em que, de freguesia, foi elevada à categoria de vila, e quando teve seu nome modificado para Vila Nova da Constituição, foram registrados os bairros e os moradores da região onde hoje se localiza Iracemápolis. Naquele período já havia ao menos sete engenhos de açúcar na região, principalmente nas terras oriundas das sesmarias oficiais, e muitos pequenos sítios, oriundos de apossamentos das terras. Entre os pequenos sítios, segundo os registros, havia inclusive vários formados por negros livres. Naqueles registros, realizados há mais de 200 anos, as denominações dos bairros citados nas terras que hoje compõe o município de Iracemápolis, eram Boa Vista, Morro Azul, Pinhal e Geada. Importante informar que, naquele período, o atual Ribeirão Cachoeirinha era denominado Ribeirão do Pinhal, o que dava nome ao bairro. A origem dos moradores também era registrada, e isso permite saber que os primeiros povoadores vieram, primordialmente, das regiões que tinham mais facilidade de acesso a essa região por haver estradas que levavam a Piracicaba, sendo a maioria de Itú e Porto Feliz, havendo alguns poucos de São Carlos (atual Campinas), de Mogi Mirim e outras regiões.

Descrição dos confrontantes do imóvel constante na Ação Judicial de Divisão de 1928
Em poucos anos, com a abertura da estrada do Morro Azul a Campinas, em 1826, teve início um processo de migração de famílias de outras regiões, sendo muitas de Atibaia, Itatiba e Bragança. E vinham em busca de novas e boas terras para agricultura, que aumentava cada vez mais sua importância, devido, como já dito, à escassez do ouro das Minas Gerais.
Foi assim que aportou por aqui um casal de agricultores vindo de Atibaia, aos quais pode-se atribuir a paternidade da povoação que deu origem a Iracemápolis, visto que foram patriarcas ou parentes de família numerosa, com inúmeros membros marcantes na história do município. São eles José Maria Bueno e Anna Francisca Franco. Casados em Atibaia em 09 de outubro de 1803, não são ainda conhecidos documentos que indiquem quando e como tomaram posse das terras que formaram a vila. Há evidência documental, que será descrita abaixo, de que foram legítimos proprietários das terras. Tiveram muitos filhos e muitas das famílias antigas que habitam Iracemápolis são descendentes desse casal. Sabe-se também que outros parentes deles foram proprietários de terras na região, o que será abordado abaixo, citando uma possível relação com um certo José Emygdio.
Dona Anna Francisca Franco e José Maria Bueno faleceram em 1846 e 1847, respectivamente. Sabe-se que de ambos foram realizados inventários, porém ainda não encontrados pelo autor desta pesquisa. O que foi encontrado até o momento é um documento importante para elucidar algumas lacunas da história da povoação, visto que tal documento descreve as divisas da antiga propriedade do casal. Trata-se de uma ação judicial de partilha de terras, movida por Jeronymo Bueno do Prado, em 1928. Jeronymo era bisneto do casal e, em sua petição judicial, explicita o histórico, cita as propriedades confrontantes, cita nomes dos condôminos por ele conhecidos na época da petição e arrola documentos, como os inventários de José Maria e Anna Francisca.

Registro de Óbito de José Maria Bueno 1847
A petição judicial de Jeronymo inicia informando que o autor é “senhor, e a justo título possuidor de partes de terras em comum no imóvel denominado Pinhal, ou Santa Cruz da Boa Vista, ou também Bate Pau, no Distrito de Paz de Iracemápolis”. Importante lembrar que cinco anos antes desse processo judicial a povoação havia se tornado um Distrito de Paz (1923), quando teve seu nome alterado para Iracemápolis. Mas o documento aqui analisado cita as denominações acima como nomes do imóvel, e não do bairro. A petição continua a instruir a ação, citando que o imóvel que se pretende dividir “pertenceu aos finados José Maria Bueno e sua mulher, Dona Anna Francisca Franco, que sempre exerceram domínio e posse sobre o mesmo, assim como as delimitações dele, foram sempre respeitadas pelos seus confinantes, cujas divisas constam do documento sob número dois, que é a certidão do inventário dos bens deixados por Anna Francisca Franco, que foi homologado em 19 de janeiro de mil oitocentos e quarenta e sete”. Após a morte de Dona Anna, o imóvel foi partilhado entre o viúvo José Maria Bueno e os vários filhos do casal, entre eles Joaquim Maria Bueno (avô de Jeronymo), José Joaquim Bueno, Jacinto Franco Bueno e outros. José Maria faleceu menos de um ano após a esposa, e 10 dias antes da homologação do inventário dela, em 09 de janeiro de 1847.
A petição de Jeronymo cita ainda que o imóvel a ser dividido “tem partes em campos e pastos, alguns trechos de cafezais e canaviais cultivados e arranchações diversas de condôminos ou de intrusos”. Segue informando que houve transferências de donos das propriedades limítrofes ao longo dos anos, e em sua petição cita as divisas, provavelmente com partes da forma em que se achavam descritas no inventário de Dona Anna Franco, de 1847, e partes utilizando denominações contemporâneas, e assim descreve que “começam nos limites das terras que foram de Manoel de Barros Ferraz; seguem pelo rumo divisando com terras que pertenceram a Silvério Rodrigues Jordão e continuando vão até o alto do espigão; seguem por esse divisando com Joaquim Pires e com terras que foram de Rodrigo Nogueira até o rumo da Fazenda Velha e por este rumo continuam até as divisas da Fazenda Paraizo, ora em divisão judicial e por essas divisas que são assinaladas pelo mesmo rumo até a estrada de Limeira a Piracicaba, nas proximidades do kilômetro treze; seguem pela estrada em direção a esta cidade de Limeira até o alto do espigão denominado Boiadeiro e por este espigão à esquerda divisando com o imóvel Boiadeiro, Geada e com outros até o ponto de partida”. Essa descrição de divisas mostra que a propriedade abrangia uma área muito grande, que aparentemente englobava tudo o que é hoje o perímetro urbano do município e ainda grande parte de seu entorno.
Para uma melhor análise da descrição acima, faz-se importante alguns esclarecimentos sobre os confrontantes e locais geográficos citados. (1) Manoel de Barros Ferraz foi um dos proprietários que receberam a concessão da sesmaria do Morro Azul, em 1817, juntamente com os irmãos tenentes Joaquim Galvão de França e José Galvão de França. Suas terras nessa região se localizavam, provavelmente entre o que é hoje a fazenda Quilombo e o bairro da Geada. (2) Silvério Rodrigues Jordão foi proprietário da Fazenda Morro Azul, que herdou de seu pai, o Brigadeiro Manuel Rodrigues Jordão. A Fazenda Morro Azul fora adquirida de partes dos Galvão de França, por volta de 1821. Inclusive nos registros dos maços de população de 1822 já é citada como tendo um engenho novo, que ainda não havia tido produção e que era administrado pelo jovem português Antonio José da Silva Gordo. Essa fazenda compreendia as terras que mais tarde, em 1870, foram divididas em três partes, gerando as Fazendas Quilombo e Iracema, uma de cada lado de uma propriedade central que manteve o nome Morro azul, onde se localiza o belíssimo e famoso palacete que recebeu ao longo do tempo inúmeras visitas ilustres, incluindo a família imperial brasileira e, por isso, é popularmente conhecido como “Casa de Dom Pedro”. (3) Joaquim Pires ainda não identificado seu histórico. (4) Rodrigo Nogueira refere-se ao Capitão Rodrigo Alves Nogueira, antigo proprietário da fazenda Boa Vista (que mais tarde foi adquirida pelos irmãos Ometto, dando origem à Usina Boa Vista. (4) Fazenda Velha aparece em muitas referências antigas e sabe-se que ficava nessa região, às margens do Ribeirão do Pinhal, hoje Cachoeirinha, porém ainda não identificado o exato perímetro. (5) Fazenda Paraizo é bastante antiga e ainda existente e conhecida, porém passou por divisões, sendo originalmente maior. (6) Estrada de Limeira a Piracicaba de antigamente é ainda existente, sendo em boa parte a mesma estrada antiga que de Piracicaba ia ao Morro Azul, passando por onde depois se tornou o Bate Pau, porém, com a formação da vila de Nossa Senhora da Dores de Tauibi (Limeira), essa estrada que, vindo do Bairro da Água Santa, ao passar pelo Bairro da Divisa (Ponto), ganhou uma bifurcação à direita, passando em frente a atual “venda do Juca”, e seguindo em direção à fazenda Paraízo e bairro do Boiadeiro, por onde passou a se chamar estrada do Boiadeiro. (7) Bairro do Boiadeiro é conhecido e ainda existente, às margens do Ribeirão da Geada (ou Águas da Serra). (8) Geada também é uma antiga propriedade e denomina o bairro até hoje assim conhecido e situado onde teve início a descrição das divisas citadas.
Pela descrição e análise acima, conclui-se que as referidas terras do casal José Maria Bueno e Anna Francisca Franco abrangiam praticamente todo o atual perímetro urbano do município de Iracemápolis e muito mais, incluindo as terras onde hoje se localiza a Usina Iracema e o antigo bairro da Cachoeira.
Quando se identificam os descendentes desse casal, que podem ter sido os primeiros proprietários não indígenas dessas terras, verifica-se que grande parte dos moradores mais antigos da cidade são descendentes diretos deles e possuem parentesco entre si, ou são descendentes de parentes próximos de ambos. Mesmo sabendo-se que alguns filhos formaram famílias em outras regiões, os que vieram e ficaram onde hoje são Iracemápolis e Limeira, geraram uma grande população ao longo desses quase 200 anos de sua chegada por essas terras.
Ainda que outras pesquisas sejam necessárias para aprofundar o entendimento sobre essa família, serão apresentados os nomes de filhos até aqui identificados de José Maria e Anna Francisca, além de alguns sobrenomes de famílias que deles descendem. Parte dos dados citados foram pesquisados e extraídos do site de genealogia “Family Search”.
Os filhos que de alguma forma puderam ser identificados são (a numeração abaixo não seguiu critério cronológico de nascimento):
1- Joaquim Maria Bueno, foi pai, entre outros possíveis filhos, de Maria, casada com Boaventura do Prado e pais de Jeronymo, autor do processo de divisão citado acima;
2- Gertrudes Francisca de Jesus, casada com José Alves de Oliveira. Casaram-se em Itatiba, em 1831. Nessa linhagem, além dos Alves de Oliveira, agregaram-se outros sobrenomes, como os Moraes;
3- Jacinto Franco Bueno, casado com Maria Furquim de Campos, em Limeira, em 1851. Desse casal descendem muitas famílias iracemapolenses. Foram pais de João Franco Bueno de Campos, Joaquim Franco Bueno, Jacinto Franco Bueno de Campos Júnior, João Franco de Campos, Pedro Franco de Campos, Maria Franco de Campos. Nessa linhagem, além dos Franco de Campos, há inúmeros sobrenomes agregados por casamentos, como Silveira, Brandão, Honório de Oliveira, Martinatti, Lemos do Prado, Casemiro, Silvello, Moreira, Martin, Pilon, Bianquini, Contin, Breda, Leite de Castro, Oliveira, Oliveira Prado, Delgado, Pereira dos Santos, Barbosa, Ferreira Mesquita, Gomes Barboza, Correia da Silva, Dias, Ramos, Miranda, Seniz, e muitos outros ainda não localizados nesta pesquisa;
4- Manuel Francisco Bueno, casado com Gertrudes Maria de Jesus. Esse casal gerou grande família na região de Monte Sião, Minas Gerais, e deles foram identificados agregados de sobrenome Godoy, Pinto de Camargo e Conceição;
5- Manoel Franco Bueno, casado com Bárbara Maria da Silveira. Foram pais de Rita Maria Franco (também chamada Rita Silveira), casada com Manoel Joaquim Cardoso, cujo filho, Bento Silveira, figurou como coautor da ação divisória das terras, movida por Jerônymo Bueno do Prado em 1928. Não foram encontradas outras fontes que comprovem essa filiação, exceto a citação no processo judicial;
6- João Francisco Lopes Bueno, casado com Matildes Maria de Oliveira. Formaram grande geração. Há registros de filhos desse casal casados em Piracicaba e Lençóis Paulista;
7- Anna Joaquina Franco, casada com José da Rocha Camargo. Esse casal formou geração em Limeira e região. Além dos Rocha Camargo, desse casal agregaram-se, entre outros não identificados nesta pesquisa, os Silveira, Camargo Neves, Camargo Silveira e Camargo Oliveira;
8- Antonio Joaquim Bueno, casado com Maria Salomé. Casaram-se em Itatiba, em 1830. Há registro de filhos nascidos em Itatiba. Ainda não identificados sobrenomes descendentes desse casal;
9- Maria Franco, casada com Antonio da Silveira. Ainda não localizados outros dados sobre esse casal.
As informações acima, sobre os descendentes do casal José Maria Bueno e Dona Anna Francisca Franco, são incompletas e superficiais. É possível, entretanto, observar que parcela importante da atual população de Iracemápolis tem parentesco com esses primitivos povoadores.
Diante da ausência de acesso a outros documentos até o momento, não é possível afirmar que todas as informações fornecidas na petição judicial de Jeronymo do Prado estão corretas, e que o casal citado era possuidor exclusivo das terras. Além disso, há evidências sobre outros proprietários que são parentes desse casal, mas ainda não identificados até aqui como seus descendentes diretos, podendo a propriedade ter pertencido antes até mesmo a algum antepassado deles.
As pesquisas genealógicas sobre as primitivas famílias remetem a outros sobrenomes tradicionais de Iracemápolis, e com parentesco com as famílias citadas acima, porém com outra linhagem. E uma possível evidência de que podem não ter sido os únicos proprietários de todas essas terras, como indica a petição judicial citada acima, é que outros antigos proprietários de glebas de terras do município são descendentes de parentes deles, mas não deles diretamente. É o caso dos descendentes de Ignácio de Loyola Cintra, que foi figura importante nos primórdios da povoação de Bate Pau. Ignácio era filho de Floriano de Araújo Cintra, que era primo de Dona Anna Francisca Franco, primitiva proprietária citada. Uma filha de Ignácio, Dona Benedicta, casou-se com Ettore Chinelatto, que foi irmão do primeiro prefeito do município, José Chinelatto. Ignácio de Loyola Cintra e Pedro Chinelatto, pai de Ettore e José Chinelatto, possuíam propriedades em comum, denominadas “Cachoeira” e “Maria”, segundo ação judicial de divisão também promovida em 1928.
Outra figura conhecida, com parentesco e com outra linhagem, é o famoso Alferes Franco, cidadão importante na história de Limeira e Araras, cujo nome completo era Joaquim Franco de Camargo, e que era primo em primeiro grau de Dona Anna Francisca, pois era filho de um irmão de sua mãe, o Capitão Inácio Franco de Camargo.
Outro irmão da mãe de Dona Anna Francisca pode nos dar pistas de um possível José Emygdio, considerado o fundador de Iracemápolis. Trata-se de Francisco da Silva Franco. A linhagem é extensa, mas será de fácil entendimento pelo leitor. Francisco foi pai do Alferes José da Silveira Franco, importante proprietário de terras da região, que foi pai de Maria da Silveira Franco, que casou-se com João Carlos Schmidt (nome aportuguesado do alemão Johannes Karl Schmidt). Desse casal nasceu Sebastiana Leopoldina Franco Schmidt, já residente na região de Limeira, que casou-se em segundas núpcias com José Emygdio de Barros. Esse José Emygdio de Barros faleceu em 1888, portanto em data próxima à que é tida como da construção da capela de Santa Cruz da Boa Vista. Como o nome é o mesmo, e a esposa era parente dos primitivos povoadores de Iracemápolis, permite-se a hipótese de que pode ser a pessoa a quem a história oral atribuiu a fundação do povoado. Ao se casar, Dona Sebastiana Leopoldina passou a viver com o marido em São Manuel, onde os Barros já eram grandes proprietários de terras, e onde foram poderosos fazendeiros e políticos, não apenas regionais, pois foram avós dos famosos políticos brasileiros Adhemar de Barros e Geraldo de Barros.
Nossa hipótese, que carece de comprovação, é, portanto, que a doação do pequeno pedaço de terra onde foi construída a capela que deu origem a Iracemápolis, e onde hoje se localiza a Praça da Matriz, foi feita por esse José Emygdio de Barros, avô do famoso político Ademar de Barros. Com os documentos até aqui conhecidos ainda não é possível confirmar essa hipótese, mas ela é plausível. A busca por documentos continua.