Presidente da Câmara fortalece causa dos autistas em Iracemápolis
Publicado em 2 de abril de 2021
Preferir a escrita à fala. Ter dificuldades em criar vínculos. Receber críticas ao ocupar um lugar preferencial numa fila. Estas são situações comuns vivenciadas por familiares de pessoas com autismo e pelos próprios autistas e que passam despercebidas pela maioria da sociedade que, ainda é carente de informações para compreender as particularidades o espectro.
Motivado durante o processo que resultou na apresentação e aprovação de lei que proibiu os fogos com estampidos no município, o presidente da Câmara Municipal de Iracemápolis, Jean Ferreira (Cidadania) e o vereador Gesiel Alves Maria (Republicanos), ouviu relatos trazidos por mães de pessoas com autismo que compõem o grupo “Cuidando de quem cuida”, criado pela psicóloga Andréia Feitozada Costa.
Jean uniu-se à causa e iniciou uma série de ações como forma de contribuir com a ampliação do conhecimento sobre a realidade do autista e ampliar a inclusão no município. As primeiras ações foram no sentido de levar ao comércio local a importância de divulgação e aplicação da legislação que se refere ao atendimento preferencial aos familiares a aos próprios autistas. “É comum que as pessoas não compreendem que uma pessoa considerada ‘normal’ tenha acesso preferencial ao atendimento quando acompanhada de um autista. Questionamentos e até protestos ocorrem, exposto o autista a uma situação e estresse”, explica Jean.
Segundo ao Organização Mundial de Saúde (OMS), o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)está em uma a cada 160 crianças no mundo, somando dois milhões de pessoas no Brasil. Oautismo pode causar problemas na linguagem, dificuldades de comunicação, interação social e comportamento das pessoas. Sem cura, exige acompanhamento multidisciplinar para atuar no desenvolvimento do desempenho social.
A vida do autista
Simone Vendramim é mãe do Theo, autista não verbal de sete anos que teve o diagnóstico de autismo com 1 ano 8 meses.“Foi muito difícil em tudo: a busca do tratamento, como entender o diagnóstico, tudo muito novo. Depois vem a fase de inclusão escolar, os olhares da sociedade e falas como:‘o que ele tem?’, ‘Ele é autista? Nossa não perece”, conta a mãe. Relatando sua luta diária, Simone conta que através da psicóloga Andréia Costa surgiu o grupo de mães fortalecendo a luta com o mesmo objetivo,buscar direitos e inclusão de seus filhos. “Uma das conquistas foi inclusão do autismo no atendimento prioritário no qual hoje é lei federal e também municipal. Foi feita a distribuição de placas nos comércios de nossa cidade. Não vemos vimos isso só como um direito, mas também como forma de conscientização do autismo”, explica.
Rosângela Maria Sobrinhoé mãe Otávio de cinco anos que foique foi diagnosticado aos dois anos e dez meses. Antes do diagnóstico, a ausência da fala levou a família a encaminhar o garoto àfonoaudiologia, que iniciou as orientações até a conclusão do receber o diagnóstico. “Hoje são de três a quatro horas por dia de terapias custeadas pelo plano médico particular, que não a equoterapia e cobrava um laudo a cada dois meses. Foi necessário entrar na justiça e apenas recentemente conseguimos garantir a equoterapia e eliminação do laudo bimestral, que também tinha um custo”, relata.
Rosângela conta que Otávio tem se desenvolvido bem, pois a fala e interação social são bem difíceis para ele que estuda em escola regular e está no pré ll. “Já tive muitos problemas na escola por não ter cuidadora e a escola queria que ficasse em casa”, relata. Ela aponta a importância da lei de preferência em fila devido à dificuldade de esperando em fila com o filho. “Otávio não tem paciência para esperar, às vezes evitamos até de leva-lo aos lugares, mas não é sempre que é possível. Às vezes as pessoas não percebem a deficiência e quando estamos na fila nos questionam. É meio constrangedor, mas também sei que muitos não sabem. Eu também não sabia”, afirma.
Gabriela Oliveira Prado é mãe da Maria Luiza de seis anos, diagnosticada com TEA aos dois anos e que mesmo antes do diagnóstico já fazia acompanhamento terapêutico. Hoje faz de três a quatro horas de terapias por dia e tem apresentado um bom desenvolvimento. Porém, o caso de Gabriela é mais um que precisou ser decidido na justiça para que ela tivesse o tratamento adequado, recusado pelo plano médico particular. “Ela frequenta escola regular, tem acompanhante de sala e está no primeiro ano do ensino fundamental. Por eu sempre ter saído bastante com ela e ela ter esse acompanhamento especializado, hoje dificilmente as pessoas notam que ela tem alguma deficiência, o que não evitou que eu já fosse questionada sobre o porquê de estar na fila preferencial”, conta.
Gabriela Patrícia Olegárioacredita que a importância da lei preferencial é que encoraja as famílias a solicitarem o direito dos filhos, evitando muitas vezes uma crise da criança e também a exposição. “Muitas pessoas não sabem do que se trata o transtorno e colocam o acompanhante do autista em situações constrangedoras. Às vezes, ter que esperar numa fila é uma tortura para um autista, pois no local pode ter barulho, muita informação visual, muita conversa. Eu, por exemplo, tenho que segurar minha filha no colo, se não ela sai correndo”, relata afirmando ainda que, antes de ser mal de autista também não sabia do que se tratava, por isso a importância da conscientização, nas escolas e no comércio.
Mãe de Maria Clara, de quatro anos, Carina Patrícia Olegário teve acesso ao diagnóstico há dois anos, uma confirmação do que já percebia quando ao desenvolvimento da filha. “Era diferente ao do irmão mais velho. A Maria é uma filha mais que especial, é um anjo que Deus me confiou para cuidar aqui no plano terreno. Deus não joga dado. Ele sabe a quem confiar e sabe que tenho todo amor e carinho que ela precisa”, testemunha. “Graças a Deus que os vereadores Jean Ferreira e Gesiel Madureira se sensibilizam com a nossas realidades pois não tínhamos um apoio para irmos ao comércio, supermercado. Com a tranquilidade de que existe um olhar diferente para nossos autistas, agora com as placas fico mais tranquila porque de fato iremos ter prioridade em filas. Só Deus sabe o quanto isso é difícil para nós quando precisamos de atendimento preferencial e não temos”, conta.
O grupo
O Grupo de mães foi proposto pela psicóloga Andreia, estimulada pela convivência com a amiga Simone, mãe de Théo e com as dificuldades do cotidiano de uma família com uma pessoa autista. “A partir daí, ainda como amiga, eu tentei possibilitar que ela ressignificar toda a situação e que ela visualizasse ser mãe do Theo, com autismo, mas que não poderia deixar de ser a Simone, o que é um processo natural das mães de autistas, que elas se anulem pelo quanto é preciso que se dediquem aos seus filhos”, explica.
Com a evolução do conhecimento, Andreia compreendeu a necessidade de criar um espaço de acolhimento das mães, para que pudessem compartilhar qualquer assunto, mas que se transformassem um espaço terapêutico para lidarem com o cotidiano da família de um autista. Em 2018 o grupo foi criado para uma escuta terapêutica e acolhedora para que uma mãe ajudasse a outra. “É importante o convívio com outras famílias e outras pessoas para que possam se conhecer compartilhar segurança e estabelecer vínculo de amizade que a demanda acaba impossibilitando. O grupo acabou não sendo apenas terapêutico. Foi possível reconhecer questões sociais envolvidas com o sentimento das mães, como a falta de conhecimento da população em relação ao TEA, o descaso quanto a algumas leis que podem contribuir com a qualidade de vida das famílias e seus filhos” conta.
Segundo a psicóloga, a partir deste fortalecimento e reconhecimento de necessidades, o grupo se moveu para gerar ações que pudessem contribuir e assegurar a qualidade de vida. “O grupo hoje tem esta força de tentar promover melhorias na sociedade. Foram realizadas palestras para divulgar o autismo, solicitamos algumas leis a serem criadas e buscamos apoio para que elas fossem colocadas em prática”, disse.
Outro viés da atuação do grupo são as ações que buscam a inclusão da pessoa com deficiência da sociedade, através de atividades como o Teatro Inclusivo que tem contribuído para com a conscientização e inclusão das pessoas com autismo. Com encontros de uma a duas vezes ao mês, o objetivo é que mais mães saibam sobre as atividades e os benefícios de poder estar no grupo. “A gente sabe que muitas mães estão ainda precisando de ajuda e muitas não sabem como agir. É para isso que queremos atuar”, finalizou.
SERVIÇO
Grupo de Mães “Cuidando de quem Cuida”
Contato: 19. 98109.9059
Facebook: Cuidando de quem cuida