Reflexões a partir de Narciso


Publicado em 25 de setembro de 2015

Uma flor bonita e solitária, que nasce na beira dos rios e tem uma vida bastante efêmera, é conhecida como Narcisa. Colorida, ela se destaca na mata, exuberante, chamando toda a atenção para si. Seu nome é uma referência à mitologia grega, de onde vem a história de Narciso, um homem que se apaixona por sua própria imagem refletida na água. Enamorado por si mesmo, ele se afoga no rio quando se abaixa para admirar seu reflexo, o que expressa a ideia de que amar demais a si próprio é um risco letal.

O culto à imagem é antigo, ultrapassa gerações e está longe do fim. Ao que parece, quanto mais belo, melhor — embora o signo da beleza não seja o mesmo para todos. Ou seja: buscar a si é buscar um encaixe no ideal de beleza que mais lhe agrada. Ou, posto de outra forma, é “estar com os seus”.

Em resumo: não concordam com o mesmo mundo um estudante marxista-leninista e um jovem que estuda economia na GWU, a quatro quarteirões da Casa Branca. E não estão do mesmo lado Richard Dawkins e Joseph Ratzinger. A cada um, o mundo do outro está errado. Como diz o ditado, a verdade depende de qual lado da mesa você está sentado.

Não nos esquecemos, também, que as pessoas valorizam tudo aquilo que fazem quando não podem ser vistas. Em suma, ninguém é o que é quando há mais alguém no quarto, mesmo escuro. As pessoas só são o que são quando estão sozinhas.

Bom, mas isso tudo são apenas impressões, que poderiam ser particulares, e não são — porque tenho um lado narcisista também; e uma coluna na Gazeta para expressá-lo.

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