Riding in a spaceship since 1984
Publicado em 26 de junho de 2015
Sentei no canto da cama e abri a caixa de sapatos desgastada pelo tempo. Tirei de dentro o álbum de fotografias, o abri e fiz um longo e divertido passeio. Um a um, os amigos de infância passaram pelo quarto: Vinícius, Rafael, Danilo, Marcelo, Henrique, Guilherme, Ulysses, César… Estavam todos lá: os aniversários, os presentes e o longo tempo em frente ao Atari.
Ah, sim, as meninas: Vânia, Eloíza, Fernanda, Daiane… Lembro que se arriscavam no futebol em troca de parceria no esconde-esconde. E ninguém queria ir embora. Tarde da noite e a gente lá, correndo pelas ruas pacatas daquele tempo.
E segui viagem. Acabei me lembrando daqueles que conheci depois disso, quando a era analógica foi se despedindo para dar lugar à digital. Tinha fotos em disquetes ainda, cuidadosamente passadas, agora, para o notebook. A memória é imaterial, mas faz bem guardar algumas coisas.
Tempos depois, fechei a caixa e pus fim à jornada. Decerto, a saudade é a mais contraditória das dores. Fiquei pensando nisso e relembrando a infância e a adolescência, e me vi com sorte pelos amigos que tenho. Percebi mais uma vez que são pessoas que admiro, que têm um coração enorme e que me dão, cada uma a seu jeito, um sentido para existir. Para alguém como eu, sem crendices, uma boa razão para acordar, escovar os dentes, trabalhar, sorrir ou fazer qualquer bobagem é, justamente, esta: cultivar os amigos — e amá-los, até o fim.
Voltei o álbum para o local de origem. Guardado, como aquelas coisas que ficam numa caixinha de sapato sobre o guarda-roupa, fica o que jamais deixará de ser importante para mim, mesmo que não signifique nada para mais ninguém.