Rua Coronel José Levy


Publicado em 17 de abril de 2015

Naquela rua passei dezessete anos. Minha infância e juventude foram ali. Mudamos pra lá em 1977. Eu era um menino de sete anos. Meu pai, trabalhador da Usina Iracema desde sempre foi premiado com uma daquelas casas conhecidas por aqui como “casas da usina”. Era a casa de número 828. Ficava bem na esquina, na descida para usina, perto do campo do CAUI. Já não existe mais. Aquelas casas foram demolidas. Às vezes fico relembrando. Naquela época a rua era nosso parque de diversões. Brincávamos de tudo. Jogávamos bola na rua. Bastavam dois tijolos, ou chinelos para marcar os gols e a bola rolava em históricos embates que chamávamos de “golzinho livre”. Também construíamos verdadeiros autódromos. Riscávamos as pistas no asfalto com tijolos ou giz. Corríamos com nossos possantes carrinhos de rolimã, de fabricação própria, em emocionantes provas e disputas de destreza e velocidade.

Tinha a amarelinha das meninas. O jogo de queimada. Mãe da rua. Esconde-esconde. Então veio a adolescência e a juventude. Outra diversão infalível na época era frequentar o Clube (CRECI). E bastava atravessar, a partir da minha casa, seis quadras, ou quarteirões da Rua Coronel José Levy e estávamos na piscina, na quadra, no salão de baile ou de discoteca, aproveitando tudo o que o clube nos oferecia de diversão. Sobravam paqueras e namoros. Entre uma extremidade e outra da rua, na altura da Praça da Matriz, ficava o famoso bar e restaurante Ponto Chic onde tomávamos Coca Cola e observávamos o movimento dos mais velhos em rodas de cerveja e bate-papos…

O tempo passou, constituí família e já tem dez anos que voltei a residir na Rua Coronel José Levy. Somados aos 17 lá se vão 27 anos morando no mesmo lugar.Uma vida! A minha Rua Coronel José Levy…
Na rua onde antes brincávamos de bandido e mocinho inocentemente, hoje tem guerra a céu aberto. E as armas não são de brincadeira. Na rua onde andávamos tranquilamente, hoje tem bandidos encapuzados e armados de fuzil. Na rua onde tinha diversão hoje tem as marcas do terror, do medo, do pânico, da falta total de segurança. Na rua onde antes divertíamos de pega-pega tem correria de gente assustada. Tem tumulto. Na rua onde imperava o silêncio de uma cidade pacata e sossegada hoje tem estardalhaço de tiros, de vidro quebrando, sirene de ambulância, sirene de polícia. Na rua onde corriam crianças de bicicleta alegremente em tardes ensolaradas hoje corre o sangue de gente trabalhadora vítimas do descaso de governos, vítimas de bandidos, vítimas de bancos que arrecadam bilhões de reais por ano e não conseguem dar proteção aos seus clientes, só pensam em suas metas e lucros.

Na Rua Coronel José Levy, hoje, tem buraco de projétil de arma de fogo, e tem buraco na alma do povo.

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