Sobre o Vítor
Publicado em 14 de agosto de 2015
Foi em 2004. Fazia muito tempo que o Vítor Michel não subia ao palco. O motivo eu nunca soube, mas ele estava afastado do teatro e parecia não querer voltar. Amigos desde aquele tempo, conversávamos sobre isso por acaso. Eu dizia que gostaria de vê-lo novamente em cena, mas ele não dava esperança.
Naquele ano, eu estava envolvido em um trabalho artístico e precisava montar um monólogo teatral. Recorri a ele: pedi que me ajudasse, disse que daria as características da personagem e o contexto da história, e a ele caberia formular uma cena. Ele recusou de início, disse que realmente havia parado, que não faria mais teatro. Insisti outras vezes, até que, enfim, ele topou! Estava de volta!
Como fazia tempo que isso não acontecia, pediu uns dias para compor a ação. Depois, me chamou para vê-la. Ligou um rádio, pôs música e a interpretou. O ato, carregado de drama, incluía o arremesso de um vaso na parede, além de lágrimas. Sim, ele estava chorando — e parecia bem real! Ao término, incorporado daquele contexto, estava exausto. Mas limpou os olhos e perguntou sorrindo se eu havia gostado. Ali não tive dúvida: ele sempre foi um ótimo ator e era realmente um desperdício estar ausente.
O ano pulou. Por coincidência, em 2005, fui convidado a trabalhar na Prefeitura no setor de Cultura, onde fiquei até 2012. Logo de cara, o chamei para montar um trabalho. “Talk Show” estreou em maio, um enorme sucesso de público! Dez anos depois, a peça ainda é lembrada como uma das melhores já feitas na cidade.
Por esse motivo (mas não só por esse), sempre fico feliz ao vê-lo levar 500 pessoas no CRECI a cada novo espetáculo — ou lotando o Teatro Virginio Ometto, como deve ser a partir de agora.