Terrorismo Caseiro
Publicado em 27 de novembro de 2015
Na sala de espera do consultório, o jovem assistia indignado, a reportagem sobre o terrorismo que ceifou muitas vidas na França.
-Não dá para aceitar uma coisa dessas – bradava. Os países tem que se unir para acabar com esses extremistas que só pensam em matar.
Sentado ao lado do jovem, um senhor mais maduro, aparentava uns setenta anos, calmamente respondeu:
-Olha jovem. Sua indignação é justa. São muitas vidas inocentes pagando um alto preço por causa da intolerância. Eu fico indignado também. Mas o que mais chateia é nosso próprio terrorismo que tem ceifado também muitas vidas. Cada ano que passa o terror fica pior. A gente vê no trânsito inúmeras mortes pela imprudência, nas ruas mortes diárias pela falta de segurança. Pesquisa no seu computador quantas pessoas morrem todo dia pela violência urbana no Brasil. Não dá pra deixar de falar também do terror enfrentado pelas pessoas lá da cidade de Mariana, daquele rompimento das barragens. Foram vitimas de terrorismo também. O terrorismo da falta de fiscalização, das propinas que maquiam obras, da corrupção que assola nosso país. Se a gente morasse num país sério, você nem imagina o que teria acontecido com os responsáveis por esse desastre. Rapaz, a gente vive um terrorismo caseiro, diário e velado.
-Seu Antonio!- chamou a secretária do dentista.
O senhor maduro foi para o atendimento. O jovem ficou sentado lá pensativo. Nem sentia mais a dor de dente que o levara para o consultório. Sentia agora era dor na alma.