Um dia triste


Publicado em 6 de fevereiro de 2015

Dizem que nunca choveu tanto em Iracemápolis como naquele início de 1964. Havia poucas ruas por aqui, a maioria de barro, alguns postos públicos e pequenos comércios. Em fevereiro, a água descia como nunca e deixava tudo enlameado.

Entre os moradores da época, Cesarino Borba foi um farmacêutico muito querido. Mesmo não tendo cursado medicina, era chamado de “médico da cidade”. Solícito, atendia a população com respeito e carinho. Quem o conheceu conta que até deixava de cobrar a consulta das pessoas mais simples, que não podiam pagar.

Ocorre que, numa fatídica tarde, ele saiu da cidade acompanhado da jovem professora Jane Cosenza, de apenas 20 anos. Com eles, também estavam Marlene Siciliano, Mafalda e Diva Pereira. Mas, infelizmente, não conseguiram retornar. A chuva era tanta que abriu uma enorme cratera na Rodovia SP 151, sentido Limeira, próximo ao Bacinello. A ponte do local foi levada pela força da água e o carro, um Fusca, despencou no barranco, cessando a vida de todos.

Outro iracemapolense, José Bertanha, também foi vítima da tempestade. Seu caminhão caiu no mesmo local, deixando um rastro de açúcar (carga que transportava) para trás — “avisando” outros veículos e impedindo que mais moradores se acidentassem. O velório, feito na Igreja Matriz, reuniu muita gente. A consternação foi geral: tudo havia parado na pequenina Iracemápolis.

Depois, a cidade retomou o ritmo. Hoje, Cesarino dá nome a uma escola, Jane batiza o Centro de Educação, Artes e Cultura. Os demais envolvidos, claro, também são lembrados com muito respeito. Com o tempo, outras histórias vieram — boas e ruins, porque assim é a vida. Mas esse dia triste jamais será esquecido.

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