Artigo: Iracemápolis deve comemorar 125 anos


Publicado em 10 de fevereiro de 2017

Angelo Denadai

Angelo-Denadai

Logo no princípio da leitura destas linhas, caro leitor, quero que saiba, de pronto, de minhas pretensões. Sim, o objetivo é bastante pretensioso. Espero que seja polêmico, que gere algumas discussões e, como fruto dessas discussões, nossos representantes legislativos proponham, discutam e alterem “a idade” de nossa cidade nas comemorações de aniversário.

Considero um equívoco histórico comemorarmos os anos de Iracemápolis da forma que o fazemos, restringido a contagem ao período pós emancipação político-administrativa, datada oficialmente pela Lei nº 2.456, de 30 de dezembro de 1953, quando Iracemápolis se tornou um município independente de Limeira.

O que defendo é o resgate de nossa história, desde a fundação da capela de Santa Cruz da Boa Vista, e fazer a contagem desde então, como o fazem praticamente todas as cidades, inclusive todos os nossos vizinhos, como será exemplificado nas linhas abaixo.

Ainda que não quiséssemos ir tão longe, afinal carecemos de documentos e comprovações quanto à data real da fundação da vila, poderíamos considerar diversos eventos históricos legalmente documentados com datas bem anteriores àquele importante momento da independência.

Temos a criação do distrito de paz, ocorrido 30 anos antes da emancipação, através da Lei 1931, de 29 de outubro de 1923. Aliás, quando foi apresentado originalmente o projeto de lei que criou o distrito, em 1923, o nome Iracemápolis jamais havia sido pronunciado por estas bandas. O projeto deu entrada com o nome pelo qual nossa vila era conhecida desde seus primórdios, ou seja, Bate Pau. O Projeto nº 6 de 1923 deu entrada na Câmara dos Deputados do Estado de São Paulo no dia 31 de agosto, e seu artigo primeiro determinava que “Fica creado o distrito de paz de ‘Bate Pau’, no município e comarca de Limeira”. A mudança do nome ocorreu apenas na segunda discussão do projeto, no dia 10 de outubro, através de emenda do deputado Procópio de Carvalho.

Porém, como já relatado pelo amigo Professor José Zanardo, em seu “Iracemápolis: Fatos e Retratos”, primeira e única importante publicação sobre nossa história, a fundação ocorreu bem antes disso, por volta de 1892, quando foi construída a primeira capela em terras supostamente doadas pelo “incógnito” José Emídio. O site do IBGE cita que os dois alqueires, onde hoje se localiza a Praça da Matriz, teriam sido doados por José Emídio ainda em 1886, já com o objetivo de se construir uma capela e fundar um povoado, e que a capela teria sido inaugurada em 1891, portanto há 125 anos.

De documentos oficiais, até então descobertos por pesquisadores como eu ou como Zanardo, aparentemente o mais antigo é datado do dia 04 de setembro de 1895, quando o então presidente do Estado de São Paulo, Dr. Bernardino de Campos, promulgou a Lei nº 378, que criou duas escolas no Bairro do Bate Pau, sendo uma masculina e uma feminina.

O Diário Oficial do Estado de São Paulo do dia 19 de julho de 1896, um domingo, registrou na seção de ofícios despachados um ofício da Câmara Municipal de Limeira “pedindo que seja creado um districto policial em Bate Pau, na povoação de Santa Cruz da Boa Vista”. O referido distrito policial foi criado somente cinco anos mais tarde, por decreto do dia 21 de maio de 1901, do presidente do Estado, Rodrigues Alves. O primeiro subdelegado nomeado para o novo distrito policial foi João Gonçalves de Oliveira Guimarães, que poucos meses depois, ainda em 1901, foi substituído pelo Major Joaquim Estrella. Em 1903, Joaquim Estrella ainda era o subdelegado, mas começa a aparecer em documentos oficiais, nesse ano como primeiro suplente de subdelegado, o nome de um homem que seria uma das pessoas mais importantes e influentes da história de Iracemápolis, o Capitão Paulo Simões.

Com a criação do distrito policial, foram também definidas as primeiras divisas do que hoje é o município de Iracemápolis. Essas divisas, no entanto, sofreriam alterações quando da criação do distrito, em 1923, e novamente na emancipação, em 1954.

Conforme citei anteriormente, vejamos exemplos das considerações históricas das cidades circunvizinhas a Iracemápolis.

Limeira considera 1826 como o ano de sua fundação. O acontecimento histórico importante para Limeira, e que justifica a definição dessa data, foi a construção da estrada que ligava o Morro Azul a Campinas. Foi às margens dessa estrada que teve início povoação da Limeira.

Piracicaba também considera a data de fundação o ano de criação do povoado, em 1767. A povoação de Constituição, como era o nome original de nossa querida vizinha, foi fundada para guarnecer as embarcações que desciam o rio Tietê para abastecer o forte de Iguatemi, na fronteira com o Paraguai.

Rio Claro considera sua fundação no ano em que o povoado foi elevado à condição de Capela Curada, e a antiga capela foi substituída pela Matriz de São João Batista, em 1827 (189 anos). A vila era chamada de São João do Rio Claro e foi emancipada de Limeira em 1845.

Santa Bárbara também considera sua origem a partir da construção de uma igreja matriz, em 1818 (197 anos). Sua emancipação de Piracicaba aconteceu em 1900.

Após as considerações acima, e voltando às pretensões, defendo e peço apoio dos leitores, para que iniciemos um debate sobre o tema e pleiteemos aos nobres Edis de nossa municipalidade a adoção dos trâmites legais para a alteração de nossas considerações quanto à “idade de Iracemápolis”. Sendo assim, no próximo dia 03 de maio de 2017, comemoraremos 126 anos da fundação de Iracemápolis.

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