Peixe Assado


Publicado em 20 de julho de 2018

A esposa não gostava muito de fazer peixe em casa. Primeiro, porque ela achava que peixe de rio tinha gosto de barro e peixe de mar só é fresco quando comprado no litoral, e segundo, porque quando ela fritava peixe, a casa inteira ficava cheirando gordura!

O marido gostava muito e sempre dava um jeitinho de comprar e levar pra casa. Naquela semana, ele descobriu um pesqueiro na cidade vizinha e levou pra casa 1 kilo de filé de um peixe muito bom e 1 peixe inteiro, limpo, segundo ele.

– Querida – começou ele querendo agradar. – Eu trouxe uns peixes aí em filé. Muito bom viu. Trouxe limão pra temperar e o moço ensinou a embrulhar os filés no papel alumínio e pôr no forno. Não fica cheirinho nenhum e não faz sujeira em casa.

A esposa deu uma olhada pro marido e viu que ele deixou dois saquinhos na pia.

– Tá! – disse ela. – E esse outro saquinho tem o quê?

– Então… – começou ele. A mulher sabia que quando a explicação começava com “então”, a coisa não seria muito agradável. – …no outro saquinho tem um peixe inteiro. Tá limpo já. É que eu estou com uma vontade de comer um peixe assado, inteiro. Um amigo me ensinou a fazer um vinagrete e colocar dentro do peixe, daí amarra com barbante e coloca na churrasqueira. Disse que fica maravilhoso.

A esposa então abriu o saquinho e não acreditou no que viu:

– O peixe está com a cabeça! E rabo! Você não falou que ele estava limpo?

– Mas amor, cabeça não é sujeira.

– O peixe está olhando pra mim! Como eu vou conseguir cortar e enfiar vinagrete na barriga dele? Olha a cara do coitado. E esse rabo? O peixe vai com rabo pra churrasqueira? Ah não. Pega essa faca, corta a cabeça e o rabo do peixe – esbravejou a esposa indignada. O marido, um santo, foi e cortou as partes do peixe.

Por fim, no dia seguinte o peixe foi assado. Mas ninguém soube dizer se ficou bom. O marido acabou não comendo porque ficou chateado. A esposa também não comeu porque lembrava a todo instante dos olhos parados do peixe fixos nela, parecia que iam assombrá-la à noite. O embrulho acabou sendo levado para o senhorzinho que ficava pelas ruas do bairro pedindo um trocado pra pinga e um prato de comida. Naquele dia ele nem se lembrou da bebida. Devorou o peixe todo e dormiu tanto depois, como se tivesse bebido muita pinga, tamanha satisfação.

E naquela casa peixe não se viu mais, nem sardinha em lata.

O que se vê de vez em quando é o casal almoçando na cidade vizinha, naquela rua à beira do rio onde se servem peixes de todo tipo. Segundo a esposa, lá o peixe não tem gosto de barro e já vem sem cabeça e sem rabo, então ela não esbraveja e nem é assombrada à noite. Quanto ao marido, pelo que se vê ele continua sendo um santo.

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