Surfistas a contragosto


Publicado em 3 de julho de 2015

Na loja de roupas esportivas, as mulheres conversavam enquanto escolhiam camisetas para os filhos.

— Olha, essa aqui é bonita!

— Ah… não gosto muito não… Parece camiseta de surfista.

— E o que você tem contra os surfistas?

— Eu não tenho nada contra os surfistas profissionais que surfam nas imensas ondas do mar. Eu tenho contra mim mesma, porque eu sou surfista e você também. Não somos surfistas profissionais, mas surfistas a contragosto…

A outra ficou olhando pra amiga sem entender direito o que ela queria dizer.

— Como assim? — perguntou.

A mulher então suspirou profundamente como se arrancasse do fundo da alma as palavras que explicariam seu complicado raciocínio:

— A prancha é a vida, nós nos equilibramos nela e vamos surfando. Quando o mar está calmo, sem agitação, a prancha vai tranquila, deslizando, dá até pra deitar nela e ficar curtindo a beleza do céu. Porém, quando aparecem as ondas gigantes, as nossas dificuldades, nossas angústias e sofrimento, tentamos nos equilibrar na prancha, lutamos para não ser engolidos pelas ondas e afogar nas águas profundas. Somos todos surfistas a contragosto, lutando para nos manter vivos. Não somos especialistas em surfe, mas vamos nos aperfeiçoando aos poucos, surfando em ondas cada vez mais altas. Vivemos no limite da sobrevivência onde ondas gigantes são rotina e mar calmo é exceção…

A amiga que ouviu tudo desanimou pela descrição tão real da vida comparada ao surfe. Na verdade, somos mesmos surfistas a contragosto, sem querer, mas não há outra opção.

— Tive uma ideia — falou a amiga que desanimou querendo se animar de novo –— vamos pra seção de roupas de dança. Vamos comprar umas roupas bem bonitas pra dançar e vamos nos matricular numa escola de dança. Vamos pelo menos aprender a dançar conforme a música… Não quero saber mais de surfe nem de surfista por enquanto…

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