Dona Maria


Publicado em 19 de setembro de 2015

Dona Maria, do seu jeito, sabe que é um problema quando direitos básicos e essenciais à vida se transformam em agrados. Ela gasta um dinheirão em impostos e vê o retorno chegar como se fosse um presente. É por isso que não acredita no governo: deveria ser normal andar por ruas sem buracos, mas quando resolvem consertar alguma no bairro fazem até um outdoor. Só falta ornamentar com bexigas.

Dona Maria não é inocente como essa gente engravatada pensa. Ao contrário: não dá crédito a esse mundo onde 60 pessoas se apertam no lotação às sete da manhã, enquanto a classe política anda de motorista particular. Não é que ela não dá bola, mas precisa se preocupar com coisas mais práticas, como limpar a casa ou fazer o supermercado.

Quando o relógio da cozinha mostra onze e meia, todos chegam para o almoço: o marido do trabalho e as filhas do colégio. É hora de separar o dinheiro da feira, do telefone e do IPTU. A vida é bem mais dura longe de fotos, bajulações e holofotes.

De minha parte, compreendo Dona Maria. É mesmo difícil acreditar em melhorias quando tudo joga contra, até o motorista do ônibus, que sequer tem paciência de esperá-la. Enquanto a propaganda diz que tudo está indo bem, saúde e segurança, a gente vê no dia a dia que não é verdade.

Mas, se ela me pedir opinião, vou falar para seguir tranquila. No fim das contas, todo carnaval tem seu fim. Jornais vão para a reciclagem e outdoors são trocados. O dia sempre termina e, com ele, muita coisa se vai. Tire essas pequenas bobagens diárias e o que fica são apenas as pessoas, com suas crises e amores, seus medos tão humanos e a tentativa de fazer algum sentido.

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